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26 de março de 2010

Dinamização do Interior

Nos dias actuais, estar isolado pode ter diversos significados e pode ser originado por diferentes razões. Para mim, estar isolado é o mesmo que viver dia-a-dia sem o acesso livre à internet. Costumo dizer que a Internet é a aldeia Global, visto a sua informação ser ilimitada no tempo e no espaço. Está longe de existir um litoral e um interior. Nem temos o problema de estarmos isolados das populações para aceder a tais redes sociais, enviar e-mails, falar interactivamente… Se não tivéssemos estes mecanismo como seria? Sem dúvida nenhuma, os nossos problemas iriam duplicar.

Mas nem tudo é mau e as novas tecnologias só vieram beneficiar esta dinamização das áreas mais rurais. À medida que as compras e o trabalho via Internet vão se tornando mais populares, é possível que as pessoas se sintam menos inclinadas a viajar para as grandes metrópoles. O livro Cities in Civilization (As Cidades e a Civilização) diz o seguinte: “Podemos prever que alguns trabalhadores que fazem serviços repetitivos, em especial trabalhadores de part-time, vão trabalhar só em casa ou em estações de trabalho nas vizinhanças reduzindo assim o volume total de tráfego dentro das cidades.” O arquitecto Moshe Safdie também especula: “Neste novo ambiente, poderemos ter milhões de pequenas vilas espalhadas pelo mundo que darão aos seus moradores os confortos da vida na cidade pequena e, por via electrónica, a riqueza cultural das grandes cidades históricas.”

No passado, para ter acesso a várias informações do mundo e estar actualizado era necessário viver nas grandes cidades. Só dessa forma era possível ter uma formação cultural à altura das exigências. Mas a realidade, como todos sabemos, mudou. Hoje, um dos aspectos mais importantes é ter acesso à rede mundial de informação, independentemente do local onde estejamos a viver. Não há problema se estivermos num local isolado ou se estivermos numa grande cidade, sendo que residindo num local ermo e isolado teremos certamente o proveito de uma tranquilidade especial.Apesar do desenvolvimento registado ao longo dos últimos anos, nomeadamente em infra-estruturas viárias que permitiram ligar as várias localidades deste país, Portugal é ainda um país com grandes assimetrias entre as grandes áreas metropolitanas, Porto e Lisboa, e as pequenas/médias cidades. Acresce a estas, as diferenças de desenvolvimento existentes entre o litoral e interior do País.

Com o objectivo de assegurar a coesão territorial e tendo em vista defender uma verdadeira igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos, independentemente do local onde residam, temos que realçar a assinatura dos contratos do concurso de redes de nova geração em zonas rurais que o Governo celebrou recentemente. Enquadrado num programa europeu, em que Portugal foi o primeiro país a avançar, foram contemplados neste pacote 139 municípios rurais do país. Destaque-se a inclusão na região algarvia, dos concelhos de Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Monchique e Vila do Bispo. Este investimento público nas áreas rurais é justificado por não existir atractividade suficiente para os operadores privados, que devido ao elevado investimento em causa e risco associado, não o fariam caso não existisse incentivo público. Em termos objectivos, este investimento vai permitir dotar as zonas rurais de comunicações electrónicas de alta velocidade, abrangendo mais de 800 mil casas, 1,2 milhões de pessoas, num investimento de 156,5 milhões de euros.

Paralelamente, este investimento gerará novas oportunidades de negócio, mais riqueza, mais emprego, sobretudo nos locais onde este é mais necessário, isto é, nas zonas economicamente mais deprimidas e onde normalmente o investimento teima em escassear, por muitas medidas que se vão tomando. É necessária uma política de desenvolvimento regional, mais preocupada num desenvolvimento equilibrado do País e não numa política que privilegie a absorção de fundos comunitários em termos financeiros. O Interior não pode ser visto como «uma reserva de índios». A defesa da qualidade ambiental e dos recursos naturais permitirá o desenvolvimento privilegiado do turismo rural, da caça e da pesca. Mas também é necessário desenvolver o sector industrial e dos serviços, potenciando a utilização de recursos humanos disponíveis e uma rede viária de ligação à Europa. A agricultura, a floresta e o sector artesanal poderão desenvolver-se no quadro de uma política integrada de reanimação do mundo rural, valorizando o grande património histórico e natural. O abandono dos campos terá que ser combatido através de políticas ligadas à utilização da água (Alqueva, Cova da Beira) e à promoção de produtos artesanais de qualidade, desenvolvendo soluções cooperativas e de apoio à comercialização de pequenas unidades e microempresas. Pensar o Interior implica a criação de regiões que tenham o apoio nacional e comunitário que o seu desenvolvimento exige.

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